Sou mesmo uma dose
de chatiações. Dessas cachaças bem transparentes e inebriantes quando se toma
um gole... Pareço límpida, mas se você se entrega ao vício as coisas ficam meio
turvas. O vício que digo, é desses de comparar meus passos com os dos outros.
Toda bebida tem sua data, sua textura e eu tenho as minhas, tão minhas que acho
bobagem comparação. Acho mesmo, pois sei que desapareço na multidão. Sou pouco
comum, repetida, ou parecida, então não me trate como mais uma. Não enxergue
meus problemas como os outros. Não me veja com os mesmos olhos.
Pois quando te
vejo, tomo o teu olhar, te percebo, me transponho. Sei que é difícil pra
maioria essa habilidade, mas me incomodo nas reduções quando me equiparam.
Cada ponto, aumenta um conto, e cada um tem seu próprio modo de criar furdunço,
fazer bagunça, ser a ruga velha que o rosto cansado sustenta. Daí me tens como
a mosca da sua sopa e quer que eu me contente.
Se sou mosca, não
me conformo não, moço. Incomodo apenas, por ser diferente. Porque o estranho
assusta. Mete medo e te frustra, por não ter controle de mim. Deixa quieto,
rapaz. Um dia sê cresce e aprende a entender os demais. Agora por ora, sigamos
em paz. Não é assim que transmites, teus recados sutis?
Te digo aqui, que
encontrei a minha na esquina seguinte à que bati tua porta. Não sei se amanhã
ainda te faço visita, se te olho de espreita ou sorrio educada. Verseio enfim,
em rimas descontraídas nossa estranha história. Aquela que não finda, não
começa, nem se explica. Um novelo de lã, perdido na Terra.
Enquanto bravejas e
acentua minhas irrelevâncias, vou construindo sonhos com os que me tomam com
respeito. Que me aceitam numa xícara comedida e me fazem de ouro. Desses outros
que são também respeitosos ¾ de lindas confusões. Que se dividem em muitos, mas
que estão sempre comigo. Me vendo, tomando meu olhar, me percebendo,
me transpondo.