terça-feira, 17 de setembro de 2013

Salvador como eu vejo...


Eu confesso, esse texto começa com um fraquejo: Salvador, eu te cortejo! De um jeito meio... abusado. Meio expansivo e declarado. Te amo mesmo. E tanto amor, me faz querer falar-te que não és perfeito. Ainda que sejas santo, pois carrega um “São” em teu nome, sabes que comeu o pão que o diabo amassou. Maltrataram-te querido, exploraram-te até tirarem-lhe a cor. Teu povo até mesmo te renegou. Quem é Salvador? Ou seria melhor dizer quem foi São Salvador?

Direi do meu jeito meio encantado (o que não quer dizer alienado), como te enxergo no presente ou no passado. Até porque quem fostes, te faz ser também quem agora és.  
Gosto de lembrar que quando pequenina, eu te via da janela do carro. Fitava tuas imensas ruas, distraída. Analisava-te, não nego. Tenho essa mania que não sai de mim. O que eu via? No farol o pôr do sol, no pelô as miçangas multicoloridas e principalmente, a cultura negra latente na avenida. Nunca fostes perfeita, mas mantinha-se na sua estrutura, com as sombras das árvores espalhadas pela cidade, com os parques abertos e cheios de luminosidade. Eu gostava de saber que perto do cimento, havia vida. É isso que ainda me inspira. Enquanto eu te olhava atenta, um homem qualquer me fazia caretas, no outro lado da rua. Uma baiana sorria. A gente se divertia com o que tinha, sabe?! Não era perfeito, mas bastava.

Agora os parques que eu visitava, sucatearam. As avenidas estão no buraco. As tintas das casas estão descascando, meu amor. Mas sabe o quê mais?! Um homem dança uma música inaudível no outro lado da rua. Isso não é incrível? Digo... nós somos a Bahia! Somos nós que movimentamos tudo. Mais do que qualquer bom par de cimentos. Por que agora não faz sentido, amar-te meu santo? Por que agora teus filhos te viram a cara e gritam “Só aqui os cegos reinam. Junto aos porcos e desestruturados.” A educação piorou e a cidade está no lixo? Por que, chegaste a este nível, meu belo?

Aliás, quem foi que disse que o homem que me fazia caretas era educado? Esqueceram-te, querido. Te deixaram apodrecer, envelhecer, esmorecer. Teus defeitos, antes decorados, saltaram aos olhos. E o que é feio incomoda. São poucos os amantes que permanecem firmes na invalidez. Estamos na era dos sentimentos efêmeros e o teu povo, partiu pra outra. Mas sabe, eu ainda estou aqui, querido. Vendo os restos da tua pintura cair e sentindo isso no peito.

Passando pela orla, da Pituba à Itapuã e impregnando-me com o salitre. Galopando entre o asfalto gasto, pensando na exuberância que era ver teu mar e que ainda é. Mesmo que o colapso da Prefeitura me turve um pouco a vista. Eu vejo você escondido, querido. Gritando “estou pronto pra sair e mostrar tudo o que você conheceu, minha cria”. Precisando só de um cuidadinho maior, de um apoio seguro. De filhos que te digam: “ei, nós acreditamos em ti”.

Quem foi o Costa Azul, o Jardim de Alah, o Parque de Pituaçu, a Lagoa de Abaeté, o Rio Vermelho, hein?! Tuas partes únicas e familiares. Lugares pra ir ao final de semana e só quem nasceu do teu ventre, entende o quão era bom tê-los por perto. Ver o show pirotécnico no reveillon, sentar na areia e pular onda, quem nunca no Costa Azul? Ano passado cancelaram. A Barra resistiu mais ao salitre, suponho... Ou foi Carlinhos Brown que tirou recursos da cartola?!  A ponte que se desintegrava recuperaram, só esqueceram do resto da orla.

Lembro também de andar de bike, de pedalinho, passar na Mac... ah, que saudade. Não sabe como te quero querido. Não digo “de volta”, porque sabes que nunca te deixei. Só estou meio longe agora, pedindo pra um monte de gente que também não te renegue. Esperando que se recupere. Desejando que seja em breve, pois meu peito já não suporta vê-lo tão triste.

2 comentários:

  1. Uau! Ficou lindo. É tão bonito ver o amor de uma pessoa a sua cidade.

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    1. Obriigaada Camila *-* mesmo, mesmo! Ainda mais por ter lido ^^. Apareça sempre :*

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