segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Pelo o que é e o que será!


E a eternidade é mesmo uma mania jovem. Pois quando ainda se é um bebê pra vida, tudo mora no tempo do “sempre”. Os amores são todos intensos, como se fossem únicos e insubstituíveis e um término é como um fim. O fim da era, do ar e tudo que se conheça até então.

Meu espírito criança, já disse o Chico Buarque: ainda é moço pro sofrimento. Portanto ao longo dos anos morri e me eternizei tantas vezes que me perco no contar. Não que tenham sido ilusões, afinal vivi e esgotei todo o meu amar a cada vez que senti, de forma ímpar e incansável, como se realmente fossem minhas últimas fichas. E foram mesmo, de certa forma.

Mas agora, nesse momento que não sou mais criança, nem tampouco tão dona de mim, entendi que meu sentir é mesmo assim. Ele é eterno, do tamanho do céu e infinito enquanto dura. Porque o que vale mesmo é o instante em que ele passa e não o modo como acaba. Afinal, em todos esses “fins” eu aprendi e o que ficou pra trás, atrás ficará, guardado no tempo, planando no ar.

Esse ano que hoje também finda, pra mim termina com uma nova perspectiva. Não quero chorar pela dor ou pelo o que passou, muito menos fazer promessas que amanhã podem não ter o menor sentido. Vou rezar sim, pra agradecer por ter sobrevivido. Por estar aqui hoje, por poder ser quem sou e não dever nada a ninguém. Não vou quantificar minhas mágoas, pois não quero ofuscar meus risos. Foram todos muitos e importantes em suas singularidades. Vou ser e só. Pelo segundo ou milésimo, meu ‘eu’ transpondo-se no ritmo do universo.

 Amanhã é dia 1º e o 13, no novo século impera. Quero renovar minha alma e brindar um novo começo de Era. Até porque o mundo quase acabou e o que ficou deve trazer a mudança. Também com os cacos, vem a velha esperança que há muito reside em meu coração. Vou pegá-la, multiplicá-la até que eu me contente. Sem pedir muito, sem jurar por tudo, esperar apenas pelo o que é meu. Chamarei contudo a paciência, para passar pela espera divinamente, aceitando de peito aberto o que vier pela frente. Andemos então, através do tempo, apreciando o momento, usufruindo a arte do ser pra viver (fazendo valer).

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O surto.

 
O dia em que você se prepara para sonhar e realmente devia. Devia, mas você simplesmente não dorme. Cochila e entre o piscar dos olhos, existem todas aquelas alucinações que você nunca compreendeu por completo... É a falta de sono ou talvez a imensa necessidade dele!
Então, no celar dos olhos você viaja num raciocínio bem lógico, mas que com os olhos abertos não fazem o menor sentido. Não se encaixa em nenhuma linha reta ou pedaço de ideia que possa se fazer entender. É meu amigo, você surtou.
Se inteirou sobre o tudo e sobre o nada e agora não sabe nem onde está. É como ter a visão do paraíso e esquecer-se de como foi até lá ou se realmente foi...
Se foi numa fração de segundos, se esqueça, abandone essa coisa que incomoda. Agora quando você realmente dorme, sonha, beija o êxtase e constata que a sua realidade é mórbida, surte! Enlouqueça e não se esqueça do que viu. Pois agora você precisa torná-lo real, deve sentir o prazer que o mundo ainda não lhe serviu. Não como um desvairado que não controla seus quereres, mas como um vivente que necessita sentir a beleza da vida.
Prudência na loucura, meu caro. Afinal, a incoerência nos rebaixa à cela e isso é coisa para os sem sorte ou os que não viram o outro lado, como nós. Atrevesse a linha, mas sem pressa. Pois o que importa não é o tempo e sim o ato. Coragem pequeno louco, você está lutando pelo o que quer e isso atrai incrédulos.
Não abaixe a vontade, nem caia na ilusão dos desistentes idiotas. Até porque os que não tentam sempre farão você parecer mais um, desses que perde o ar na hora de inspirá-lo. Sim, inspire-se pela insensatez de ser você e ninguém mais, aquele que consegue o que quer e vê no irreal uma possibilidade.
Ame, meu caro. Tente seguir e principalmente, jamais esqueça que o mundo é muito pra ter sido feito por nada. Por ninguém, nem por força alguma. Quem faz a Terra somos nós! Então façamos mesmo e cheios de convicção.

Sobre o mar.


Agora tudo ficou mais claro. O porquê da terra procurar o mar incessantemente. Li em algum lugar que a água são como os vasos sanguíneos da Terra, é como uma parte constituinte e vital do que me define. Pois sou do signo da terra, portanto não posso fugir do mar e ao mesmo tempo, tenho ele como essência. Água, tão pura água... meu universo misterioso!

 Alguns copiadores repetem que “definir-se é limitar-se”, no entanto eu prefiro ser adepta do “definir-se é conhecer-se”. Sou pessimista, inconstante, calculista e confundo-me com as possibilidades mundanas, mas nunca com os meus ideais e vontades. Planejo minha vida enquanto a desenho e acho mesmo que as pessoas deveriam se entender. Deveriam estabelecer limites e aprender a viver! Minha antítese acredita mesmo que tudo pode mudar e que todos farão parte disso.

Ou melhor, todos devem fazer parte disso. Afinal somos nós o problema e a solução, o perigo e a salvação de todos os erros cometidos e os que ainda podem ser inventados. Temos um universo na cabeça e uma enorme dificuldade de entender e compreender o que está fora de nós e por isso é tudo tão difícil. Complicado sim, quando visto por um ângulo solitário, que nunca tocou um outro lado.

É certo que eu mareio, me distraio e às vezes me esqueço que o tudo não pode ser como eu. Ele tem o jeito dele, eu tenho o meu, convivamos! E você, não deveria aceitar também que o seu vizinho bem pode ser seu amigo? Veja bem, é um pequeno esforço quando comparado à toda essa imensidão que habitamos. Olhe pra si, me veja aqui e não só me perceba, ande comigo. Para o futuro, para um mundo em que todos nós possamos criar e recriar, sem destruir.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O tudo ou nada.



...  e o mundo não pára! Para te ver, para te esperar, pra você. O mundo é mudo, mas vive e leva com ele mil destinos também vivos, também dinâmicos. É estranho ver tantas pessoas, tantas histórias, tanta beleza ao lado de tanta miséria.
Ver a pobreza, ver o nosso ‘rico universo paralelo’ onde todos se locomovem em cabines motorizadas. Cabines que não são só cabines, mas que servem de pura ferramenta de exibição. Nos mostramos enquanto os pequenos somem, bem por baixo dos nossos olhos... E ás vezes nem tão embaixo assim.

Pra quê se importar? O mundo é grande e a dor existe, lidar com ela né? Nada disso! Mudar, lutar, movimentar-se como a Terra. Ela gira e nós paramos, pra quê? Pra ver tudo tremer, gente como a gente morrer, e tantos outros lutando pra sobreviver. Conformar-se e só. Chorar pela perda e rezar por um amanhã melhor.

Que Deus nos ame e nos cuide, mas que nós mesmos nos amemos e nos preservemos. Afinal, somos nós que vivemos e aqui estamos nos envolvendo e saqueando toda a vida que existe a nossa volta no simples intuito de satisfação. Nós tiramos e não repomos. Nós vemos o erro e não consertamos.

Os alienados têm o álibi da falta de conhecimento, os ricos têm o próprio bolso pra manter e os do meio? Esse são a voz, as pernas e as costas da nação. Mas não é com a boca que se vai à Roma?

 Então giremos, meus belos. Deixemos o feio egoísmo de lado. Andemos, queridos! Apenas para sentir o ar que preenche o nosso espaço. A Terra anda precisando mesmo ser inspirada, até porque há muita fuligem para ser expirada. Perdemos o simples contato com o que nos rodeia e precisamos disso de volta. Para poder andar em nossas cabines luxuosamente isoladas, em paz. Ou até por mais: provocar a unanimidade nesse andar. Justiça, tão desejada justiça, não fuja sem antes nos beijar com a sua grandiosidade esplendorosa!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Dentro do relógio.

(originalmente escrito em: 27/02/2012)


Sempre que idealizamos um mundo novo ou entramos supostamente nos nossos sonhos, fazemos isso em um tempo diferente. Nesses lugares os ponteiros giram de outro jeito, às vezes rápido demais, outras um pouco mais lentas e ainda há a possibilidade do estático. No último caso, ficamos nessa outra dimensão e quando acordamos o tempo volta a correr exatamente no mesmo ponto em que havia parado. E é observando esses pequenos detalhes, que podemos concluir que o tempo é mesmo o maior temor humano.

Isso simplesmente porque ele é abstrato, incontrolável, determinista e tem posse de tudo que se passa com a vida na terra. E diante disso, no meu limitado espaço nada mágico, tenho pensado que o relógio também me assombra. Mas não como na maioria dos casos, pelo medo da efemeridade. Acho mesmo que meu espírito é um tanto antigo e invariavelmente imagino como será quando externamente eu tomar essas proporções. Meu temor consiste e pára bem no meio disso tudo.


Parece fácil fazer planos pro amanhã ou lembrar do que foi feito ontem, mas e o hoje? Como a gente passa e resiste ao agora? Não dá para simplesmente cochilar e deixar os milésimos pra depois, o presente é importante e perdê-los não é algo que eu realmente considere. Mas mesmo lutando para aproveitar os meus minutos, tudo parece mesmo perdido. É só que os traços da minha trilha gostam de se mostrar enquanto estou “acordada”.
E quando eles se mostram, não gosto do que vejo, nem gosto de perceber que não posso fazer nada quanto a isso. Só esperar, que o tempo passe, o calor esfrie e de repente eu me ocupe com outras coisas. Eu fui feita pra voar e não pra parar. Não consigo entender a velocidade mundana, afinal a minha mente corre e eu só ando. Ando pensando quantas vezes me incomodo pela sensação que fica quando não há nada a ser feito.

Agora mesmo, eu estou dentro do relógio, me prendendo a horários repetidos, sentimentos conhecidos, refletindo sobre quando a chuva e o sol vão assumir meu ritmo.

La vita.


La vita è bella, non è vero? Ao menos deveria ser. Nos esforcemos então e façamos algo por nós mesmos. Solidariedade e altruísmo são valores bons à se considerar, mas não podem ser postos em prática quando se esquece da individualidade.

 É só que eu tenho gasto toda a minha força vital esses dias e é bem nessa observação que mora o meu pesar. Gasto tudo sozinha e em troca, roubam-me o ar. Acho injusto ver tudo se encaixar e não me esforçar pra juntar as peças. Mas eu não sou criadora de coisa alguma e quando o assunto é vida, as peças assumem seus próprios movimentos. Sou dona de mim e das minhas palavras apenas. Minhas letras, minha honra.
Sinto-me completa apenas quando aposto todas as fichas. Quando libero meu último suspiro por algo que acredito. Mas todo corpo ferido, exige clemência e cautela, e para se manter ativo logo te impede de correr certos riscos. Por assim dizer, quando se sangra, aprende-se que em certas situações deve-se parar. E quando o estático te mantém preservado, a espera te sufoca. Tudo porque a resposta nunca chega.

Sempre foi assim e ainda é. Se continuará? Quem sabe? É tudo incerto, prefiro não ter a confirmação das minhas investidas insanamente calculadas. Sim, porque riscos não acontecem apenas sem planejamento. Sou detalhista demais para não me prender às características da minha dor.
 
Dói ver que coisas simples se perdem, que o meu viver se esvai e não por falta de tentativa. É mais por falta de interesse ou um irônico egoísmo. Afirmo que voltar o olhar pra dentro é necessário, mas talvez seja justamente esse o motivo de meu peito pesar e eu morrer sem as palavras que espero.
 
É, talvez. “Se”, mais uma vez, dúvidas, interrogações, voltas sem fim. Meu pensamento ecoa a velha questão “Por que você não vem pra mim?”. Tanto faz, vou ter que te deixar ir. Mais uma vez, esqueço e fico por minhas contas. Me reparando, tentando sobreviver por mim...

sábado, 6 de outubro de 2012

O espírito vivaz.


E o que seria de tudo sem o movimento? Bom, sei que se o mundo fosse estático, eu não seria uma partícula constituinte do mesmo. Porque meus átomos, assim como qualquer outra substância que me define, não só se movem, como vivem o dinamismo que os fazem ser.
No entanto, foi na inércia que novamente vacilei e me pus a pensar na essência. Na composição, que eu sempre defendo ser a mais importante. Ando vendo que a minha tendência de nadar contra corrente, atrai não só os resistentes como os que vendem a ilusão de uma revolução. Sim, pois o mundo na verdade divide-se em 3: os que lutam, os que aceitam e os que fingem aceitar.

E esses que têm a arte de fingir, são mesmos projéteis que incomodam. Pequenos mas que ocupam um espaço que não se pode desprezar. Ainda assim, os encaro. Confronto suas intenções como se pudesse tocá-las com os olhos. Algumas vezes, penso que eles sentem enquanto foco minha artilharia, outras, acho graça por notar tudo isso e ainda assim não ser percebida.
Percebam que a encenação não absorve experiências. Muito menos que a maturidade é feita de cópias. Pois quem cria, sempre inovará, na sua presença ou ausência e você plágio imperfeito de um cérebro real, é puramente oco. Você cansará rápido e logo se tornará inútil. Afinal, se sustenta com as pernas gastas do vizinho, uma base com data pra expirar. Quem constrói assim o fará, até o fim. Até que em si, não caiba mais tanta beleza.
Por sinal, tua aparência que atrai, também se vai. Me cansa e me distrai. Mas um dia, volto minha atenção pra seres de maior importância. Os que vivem por si e não pelos demais.

domingo, 12 de agosto de 2012

Personalité.


Sabe a dor que surge quando se tem apreço por alguém e esse alguém de repente te julga, ou te enxerga de um jeito distorcido?  Então, foi-se o tempo em que eu fazia malabarismos mil pra mostrar meu caráter e refletir minha essência. Mas o tempo passou, e que pena, já que hoje tudo isso me cansa.

Tenho minhas próprias perspectivas e objetivos e nenhuma vontade de provar meus ideais. Só é chato perceber o quão repetitivo é ser confundida com algum objeto oco, tendo tanto guardado no peito e que não se mostra. Nesses momentos, faço minhas as palavras de Oswald de Andrade e penso mesmo que “meu palitó é de vidro”. Afinal mesmo não fazendo questão de reafirmar nada, ainda me deixo atingir por palpites sem conhecimento.

De qualquer forma, tenho aprendido a respeitar as observações alheias e até confesso que tem sido divertido assombrar as almas que se arriscam a me desvendar. O medo é interessante quando se retém a essa linha. Afinal, pra cada fada há uma bruxa, não é mesmo?

E como bruxa, minha língua é venenosa. Rastejo entre a timidez e a coragem e invariavelmente bocejo certas verdades. É que passei boa parte da vida presa num palitó trincado, provando o meu valor e tentando ser agradável. Infelizmente, hoje meu ego se diverte nos desagrados e os meus metódicos conceitos emergem com tudo que tenho me tornado.

Portanto se me conhecer, terá o desprazer de me ver defendendo o que sinto. Porque eu nasci e cheguei até aqui e quero mesmo mudar o que está ao meu alcance, ainda que isso seja inconveniente. E a maioria? Que se conforme, estou feliz comigo e isso basta.

domingo, 29 de julho de 2012

O medo.



Toda criança que se preze, decide logo cedo do que ela gosta e do que ela tem medo. Algumas coisas me assustavam, outras me faziam rir, mas eu só decidi que tinha medo de algo quando refleti e percebi que eu jamais sobreviveria àquela situação. Um pouco extremo, é verdade, mas quem sou eu sem o drama? Costumo ser intensa nas minhas decisões e sentidos, e só por isso estou distante e ao mesmo tempo tão integrada ao humano.
Então, um dia conclui que a solidão era meu fim. Mas o amadurecimento me ensinou que essa palavra era o durante, estando eu agora na vírgula, ando rodeada mas ao mesmo tempo completamente sozinha. Apesar da ideia de continuidade, estou presa às mesmas questões. E tudo porque quando encontramos um bom referencial, dificilmente queremos voltar a miséria.
Quero as mesmas coisas, porque já as tive e não suporto o fato de tê-las perdido. É bem verdade que também quero o que ainda não possuí e talvez seja o que mais me motive e torne o desconhecido ainda mais atraente. A tentação de provar algo que você só pôde imaginar... a vida toda. Quero tudo isso e ninguém é capaz de entender o quanto. E não é esse o único motivo pelo qual às vezes, eu mesma opte por andar só.
Ando assim porque a melhor companhia que tive virou as costas pra mim e porque quem me encara, só me analisa, não me abraça. Me pergunto se meus desejos são escorregadios porque não tenho a capacidade de agarrá-los, ou pior, mantê-los em minha mão. Mas nesse mesmo minuto reparo, que todos seguram o que não conhecem, largam cedo, e ainda assim continuam nesse jogo de sentimentos solúveis. Não que eu queira dissolver, mas eu deveria ter a oportunidade de ter algo nas mãos ao menos uma vez.
Talvez eu queira demais por muito tempo e só quando eu aprender a aceitar o fim, eu consiga ter algo de fato. Estranho ter que começar pelo final, mas que jeito, se me roubam o início... É difícil quando a razão vai embora, meu peito embala e eu não posso fazer nada. Então tenho que sonhar com o dia em que tudo vai virar e voltar a ter algum sentido.

Fitas ao Bom Senhor!


Não é porque a raiz vive presa a árvore que toda a planta obrigatoriamente depende do que vem da terra. Na verdade, essa relação é de gratidão, é de amor, afinal a raiz é o canal que nutre todo o conjunto, bem como o caule. Então se por um acaso eu me remeto ao meu lar, não faço isso por obrigação, ou porque simplesmente vim de lá, mas sim, porque amo a imensidão cultural na qual fui criada, porque quero o seu bem e porque ela me faz bem também.
Posso ter fantasia nas minhas palavras, mas o que é o Ilê e o Olodum na Bahia, se não isso?! Minha terra respira manifestações, sincretismo religioso, e inspira cor junto a isso tudo. Lá ser negro é orgulho, o diferente é comum, o estranho é só pretexto pra graça e o mar é nossa maior dádiva. Não que na capital não haja quem discrimine, quem se limite e viva à contrariar tudo que grita a sua volta, pois o homem ainda é pequeno e ignorante pra saber agradecer ao Bom Senhor pelo o que ele nos deu e ainda dá. Mas para cada mente vazia ou coração oco há um outro espírito de fé, se ajoelhando nas escadarias ou bem perto do altar da Igreja do Bomfim pedindo por outras almas ou cumprindo o prometido após alcançar sua própria graça.

Se você crê em Deus, em Buda, Alah ou em Oxum não importa, o que quero afirmar é que há esperança. Não é o que o mal não exista, mas certos lugares guardam uma magia que faz a bondade e a leveza emergir. Não sei se são as fitinhas presas nas escadarias da igreja, se são as pedras que fazem o chão do Pelô, ou se são meus irmãos de terra que hoje trazem alegria para este antigo firmamento que já se banhou  com sangue. Só sei que Salvador irradia felicidade e me cobre como uma mãe que acalenta seu filho no inverno. Lá me vem uma energia vívida, uma energia que não sinto em nenhum outro lugar.

Uma luz que infelizmente tem sido ofuscada pelo interesse do governo, pelo descaso dos que nos representam, mas que o meu povo tem apontado com sua sabedoria e têm manifestado uma resistente revolta. E hoje também sei que meu deu fé o bastante pra jurar e esperar que junto aos meus, um dia farei a luz da Bahia brilhar novamente. Quero ver minha cidade radiante, como ela sempre foi, como ela sempre será. Tenho esperança que a próxima brisa que o Bomfim enviar para balançar suas fitas, serão de paz, e além de harmonia devolverão a beleza da minha Bahia.

sábado, 30 de junho de 2012

Respeitando o deserto.


É só que quando a vida nos contraria, agente fecha os olhos e se recusa a abrir os braços para as poucas delícias do dia. Mas assim como o dia, a vida também se esvai, na escuridão ou numa manhã quente. Sem pôr do sol, sem anúncio prévio. Ela simplesmente voa e nós minimamente pensamos controlá-la com os ponteiros do relógio.
Foi percebendo isso que aprendi a respeitar o deserto mesmo amando o mar. Minha alma é azul, meu coração é onda, eu ainda transbordo, mas estou no deserto e também não me custa inundar esse lar.  Foram minhas vertentes que me trouxeram aqui, por motivos que as minhas águas ainda vivem a borbulhar em hipóteses, mas eu sempre serei água, não importa onde, não importa como. 

Também pode ser libertador ver o vento abraçar a terra, vê-los dançar pra terminar em dunas. São montes secos em movimento, o ar mareia a areia e me faz ter miragens de casa. A natureza lateja, em qualquer canto, ela grita pra me lembrar que tudo vive. A chuva beija terra, a árvore segura o chão, o trovão me energiza e o relâmpago me tira da escuridão.

Todo nômade aprende a ter o seu espaço sagrado em uma trouxa, então eu posso viver feliz em um quarto se tenho ar. Quando respeitamos o lugar que nos nutre, a reserva vem em dobro e assim seguimos, com menos pesar e menos feridas que venham a sangrar. Apenas deixe um rastro de flores por onde passar e delicie-se com o aroma que ficar.

domingo, 10 de junho de 2012

O poder do 'não'.


É que antes eu era a menina que só sabia dizer ‘sim’. Doía, mas parecia pior negar para o outro. Afinal, da minha dor cuido eu e ninguém parecia se importar muito com isso... Mas o tempo passa, o orgulho cresce, agente amadurece e aprende que o ‘não’ é necessário. Precisei aprender a usá-lo e descobri a vantagem de tê-lo ao meu lado.

Negando, me fortaleci, tomei controle das minhas feridas, evitei alguns arranhões e segui, mas fiquei mal acostumada. Gostei tanto do ‘não’, que ele passou a ser o meu impulso, a minha defesa, o meu resguardo. E parece mesmo que quando agente guarda demais, às vezes perdemos o mais importante, o aprendizado que vem com os machucados.

Então agora cheguei nos trilhos em que as minhas negações estão me incomodando. Percebi que desse jeito estou me podando de alguns prazeres sutis, estou desistindo de ser feliz. Não é que o ‘não’ seja meu inimigo... Ele é quem guarda meu espaço, mas não pode continuar a me impedir de ampliá-lo. Há tanto lá fora a viver e a se fazer, dizer um sim (mentalmente) às vezes faz bem!

Ora, nem sim, nem não. Calo-me na interrogação, brinco com ela e descubro se o caminho é de negar ou aceitar. Nego-me apenas, a negar sem pensar outra vez. É hora de aceitar o ‘talvez’ e parar de encará-lo como uma ‘pedra no sapato’.

O mundo é inconstante e pede medidas sem formas. Desalinhemo-nos então, vivamos em curvas pra encontrar a verdadeira direção. A seriedade é necessária, mas não pode ser eterna. Brinquemos de errar e aprendamos até acertar de vez.

domingo, 6 de maio de 2012

Grama negra.


Aterrissando em terras férteis percebi o quanto estava dependente do deserto. De repente, a sensação estática que me tomava apenas nessas raízes sem vida, me tomou também na chuva. Entre rios, me senti seca, como a grama que queima na estrada.

Da ausência para abundância da minha essência (a água), senti que sugaram todo o verde que habitava em mim e agora eu só transparecia areia. Minhas folhas eram negras, minha cabeça desintegrava, minha razão foi consumida, nada era o que restava. Mas foi para fugir disso que viajei pro mar, então o tudo, rapidamente perdeu seu sentido.

Parece que levei comigo os problemas do sertão, mesmo estando em fartura. E assim fiquei, inconformada e insatisfeita, por ter as mãos atadas e desnecessariamente aflorar na mente a decadência humana.

É agoniante se dar conta que o seu próximo passo depende de uma decisão sem solução. Todas as minhas opções se enrolavam e só se desfaziam em linhas perigosas, me fazendo optar por esquecer as retas para viver em curvas... Desviando-me, me perco, mas também não caio e ainda tenho o direito de me agarrar em qualquer objeto firme no caminho. Caminho, o meu nunca se dividiu tanto!

Depois de ter a seiva queimada, acordo no dia seguinte debilitada, mas vejo água. A dúvida foi perdendo a cor e foi aos poucos sendo tomada pela certeza... O meu caminho começou a se formar. Tudo se adequou como uma dança, vi o mar e me senti dedilhada por um piano de gotas. Fui envolvida pelo chiado de terra molhada e revigorei-me, enquanto pude. Mas como embebedar-se é desolador, com as mãos molhadas tive medo e agora tranquilamente espero, até que o meu verde tome o seu verdadeiro tom.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Mais partes de um todo.


É que de repente eu descobri mais um pouco de mim: que minha razão e a minha emoção não só brigam entre si como também são duas partes muito minhas. Minhas percepções emotivas parecem andar em uma sintonia distinta da minha lógica, mas há um certo ponto em que elas se encontram, uma linha em que se cruzam. Uma linha tão tênue que às vezes, eu mesma demoro para notá-la.

É que eu gasto tanto do meu autocontrole para não deixar que notem meus rompantes de menina, que é estranho encontrar lógica na impulsividade. Mas é justamente quando me impulsiono em prol de algo que eu estou liberando meu inconsciente, declarando coisas que a minha alma notou mas que o palpável silenciou.

E é só no silêncio que eu entendo que certas reações não deveriam ser podadas. A parte mais incontrolável de mim, que grita e quer sair, também me protege. Surpresa minha agora, tirar essa parte da condição de vilã ( que tantas vezes me fez de vítima ) para um protecionismo meio torto.

Houve dias em que gastei muito do meu tempo, decifrando o ilógico, criando planos infalíveis pra decodificar o que ficou bem mais claro em simples impulsos. Hoje pareceu muito mais fácil pensar que talvez o meu cérebro e as minhas emoções fizeram as pazes, selando um acordo que um jamais seria feliz sem o outro. Pra quê separar o que a minha espiritualidade trouxe fundido no meu corpo?

Eu sou mesmo essa mistura. Eu sou ciência, eu sou coração e quero mesmo ter controle disso tudo. Gosto de observar o mundo e a sua falta de jeito e gosto mais ainda de ver quando tudo se acerta. Gosto de acertar e participar da queda, só para um dia ver tudo levantar. É a vida : ela anda, gira, decola, cai e termina do jeitinho que deveria terminar.

domingo, 1 de abril de 2012

Raios de luz


Invariavelmente sou atingida por raios luminosos... raios que me iluminam ou que me encantam de alguma forma, me fazendo querer cativá-los. Cativo-os porque a vontade de cuidar em mim é grande e pouco é preciso para despertar essa habilidade. Mas eis que nessas terras desérticas, iluminar é inevitável e desconfiar parece necessário.

Alguns raios de sol me remetem à uma certa escuridão que andou comigo.  Não falo de tempos difíceis, mas sim daquela escuridão amiga, que ainda me faz falta e me faz voltar os ponteiros na maior parte de tempo. Esses mesmos raios foram castigados e logo me condenam por meus traços...

É certo que o título de culpa frequentemente me é dado sem julgamento, mas diante de tal perseguição é hora de dar advertências! Raios que possuam raízes nessas terras secas, saibam que não sou como nada que vocês tenham irradiado. Não é prepotência ou síndrome de superioridade, apenas percebam que não viemos da mesma terra e por mais que meus atos transpareçam algo conhecido [ ou que por um acaso, vocês julguem desprezível ] certamente é só aparência. Pois meus risos e besteiras é só o que transborda do meu copo rachado, há muito em mim que se perde e que eu guardo resistentemente.

Perspectivas comuns, são irreais. Eu atendo aos meus anseios e às minhas verdades, concordando ou não, com a maioria. Não rirei se assim não quiser. Logo, não criem planos ou perfis facilmente manipuláveis ou encontrados... Há muito nesse copo rachado, que não se mostra. Meu mar é muito mais extenso do que se pode imaginar..

Minha mente é passada pro presente, mas meus planos sempre estarão à frente. Minha alma é liberta e não se prende ao sertão. Desistam de tachar-me, porque em mim isso não tem mais nenhuma significância. No mais, iluminem-me, brilhem, façam o bem que de mim, o receberão também.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Folhas Secas.


Não é só o inverno que passa. Passa-se, a primavera, o verão e então, as folhas caem. Uma queda silenciosa e sem igual, com pura calmaria, com a brisa, monotonia e desolação. A pintura natural é linda, mas o silêncio esconde segredos. O estático é a ausência do movimento. É a ausência do que me movimenta.
Um vendaval passou, bagunçou o que eu tinha como certo e me fez querer seguir num redemoinho de magia. Loucura minha, achar razão na inexatidão dos seus atos. Sem sentido, sem explicação o seu modo de pensar ou agir sem pensar. Mas tanto faz, porque tua turbulência já não me afeta. Não me causa rancor ou dor. Me dá preguiça, me cansa, me deixa blazé.

Árvores maduras se acostumam com o Outono. A nossas reservas às vezes caem e senti-las espatifar no chão sempre, é desperdício. Conformamo-nos com a lei da vida, a mesma que nos leva, a mesma que nos traz e que nos energiza nesse ciclo infinito.

Mas algo ainda me intriga: a sua vinda é só passagem, é peça importante, personagem integrante ou protagonista desse tronco que aqui se mostra? Nutra-me de respostas, seiva misteriosa. Alimenta-me com tua compatibilidade, usa tua inteligência e não infantilidade e me mostra duma vez a tua verdade.

Verdade, que muito mais florida eu estaria, se a minha irmã de raiz ao meu lado estivesse. A minha dama de preto, minha protegida.  Em tributo te resgato em memórias, nunca te deixo, nunca te busco, mas de ti pra sempre cuido há milhas de distância. Na terra seca e abandonada, espero tua umidade adorada, que também julgo cercar-me de zelos.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Free.


Ás vezes o corpo parece minimamente limitado, por aprisionar em suas comedidas extensões tantas vontades. Sinto muito, mas muito além do que meu corpo suporta. Mas tanto, que às vezes descarrego injustamente e falo da boca pra fora.
Falo muito também, falo tudo, falo o que penso e o que temo. Pois vejo muito e parece desperdício ver e guardar... Ah, são tantas palavras, que os meus limites físicos, transbordam e logo desembocam num descontrole elementar.

Elementar é a liberdade, é livrar-se das amarras do mundo. É ser por ser, sem dever, nem esconder que o que há no mar, não é só mistério.

Misterioso é o criador de tudo: diversas formas, falante ou mudo, nos fez pequenos e em nós pôs um pouco de tudo. Tudo, que por tão extremo, não cabe em mim, não cabe em si e assim transforma meu corpo em copo. Frágil e velado, transparente e gelado enquanto produto. Apenas mais um copo na prateleira, com os mesmos métodos de fabricação de qualquer outro, mas que por um acaso se arriscou a ser bem mais que um copo. Agir como deveria ser um corpo.

Estranho é mesmo perceber, que o humano logo se confunde com objeto. Pois suas características se perdem no tempo, se perdem com todos, que copiam e como copos deixam-se comprar. Compra-se o sorriso, compra-se o amor, vende-se a liberdade até que se cansa. Porque lutar como mar se fomos feitos para aprisionar nossa própria medida de água?
Cansei disso, dessa corrida pela imensidão que sinto. Pois meu corpo sim, é vivo e o meu mar agora escolhe suas batalhas. Afinal amar é muito pra terminar em copo. E competir é mesquinho diante da imensidão oceânica. Eu quero é mar, é ir a qualquer lugar, não-mar um rio tão livre como eu, cruzar nossas correntes no cabo da boa esperança. Turbulentamente em bolhas do sentimento que eu sempre fui , esperando alianças.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Plans.


Porque parece mesmo que o plano, é planejar tantas outras coisas que caminhem e me levem à você. Fugir pode até desviar o caminho, mas no fim, há sempre um atalho que me faz voltar ao roteiro principal. Razão não há nem nunca houve, é só a vontade de ter o impossível, lutar pelo difícil. A verdade também é que eu não resisto ao seu sorriso e por isso insisto.
A idéia de ter algo a se conquistar sempre me envolve e também sempre me frustra, enquanto tento, reclamo e sigo. Assim como a conformação que vem ao perceber que ainda não alcancei o fim, me cansa e me faz querer viver tantas outras coisas no caminho.

Talvez o que falte mesmo é te dizer isso, mas há uma imensidão que eu sinto e que por isso já me fazem de boba sem muito exercício. E talvez eu até repita num ritmo duvidoso, entre trechos musicais e você nem perceba. Logo, veja que se a sua atitude me engana, porque eu deveria falar-te se no fim posso não ter uma linda história a contar? Se queres andar, diga então que me ama e aí então iremos sonhar...

Enquanto se guardas e eu aguardo de olhos vidrados a te fitar e duvidar, ainda escreverei, ainda versearei besteiras que o meu coração grita e que eu disfarço a cantar.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

The Mirror

Reflexos sempre são assustadores. Há sempre o dilema da imagem que você quer ver e a que você é. Mas isso é típico, triste é mesmo, quando você acrescenta o fato “como os outros te vêem”. É bem certo, que o que você gostaria de ser logo se confunde com o modo que você gostaria de ser visto, mas é um tanto curioso observar que tais conceitos mesmo se cruzando, logo se distinguem.
Sim, pois quando você tenta ser o que não é, nem sempre você consegue e então transmite uma imagem um tanto torta.Ou mesmo quando tenta parecer você, há o limitante das sensações e dos impulsos, pois somos imperfeitos e nada ocorre exatamente da maneira como planejamos ou imaginamos.
Levamos a vida pra construir uma imagem para nos darmos conta de que nunca a teremos como desejamos. Começamos quando pequenos na escola, tentando nos destacar de algum modo, então crescemos e temos que parecer apenas perfeitos, para que sejamos considerados em uma empresa, para então evoluirmos na hierarquia estabelecida na mesma. Mas, o problema está quando nos deixamos levar pela imagem que os outros querem que tenhamos e esquecemos de tentar parecer o que somos. É um ciclo incansável de parecer, que se esquece que a aparência, sempre foi reflexo do “ser”.
Então seja e não pareça, ou ao menos tente parecer o que é..  Pois ainda somos jovens, tão jovens e não queremos cantar a música de outros enquanto não tivermos cantado a nossa primeiro. Ou ao menos, deveria ser isso que um jovem deveria querer.
Talvez viver sem se preocupar com o reflexo, seja mesmo o melhor a se fazer. Sem moralismos, preocupações exteriores, apenas lutando pelos seus objetivos. E o espelho? Use-o apenas como acessório, não o torne parte vital.