Não é porque a raiz
vive presa a árvore que toda a planta obrigatoriamente depende do que vem da
terra. Na verdade, essa relação é de gratidão, é de amor, afinal a raiz é o
canal que nutre todo o conjunto, bem como o caule. Então se por um acaso eu me
remeto ao meu lar, não faço isso por obrigação, ou porque simplesmente vim de
lá, mas sim, porque amo a imensidão cultural na qual fui criada, porque quero o seu
bem e porque ela me faz bem também.
Posso ter fantasia
nas minhas palavras, mas o que é o Ilê e o Olodum na Bahia, se não isso?! Minha
terra respira manifestações, sincretismo religioso, e inspira cor junto a isso
tudo. Lá ser negro é orgulho, o diferente é comum, o estranho é só pretexto pra
graça e o mar é nossa maior dádiva. Não que na capital não haja quem
discrimine, quem se limite e viva à contrariar tudo que grita a sua volta, pois
o homem ainda é pequeno e ignorante pra saber agradecer ao Bom Senhor pelo o
que ele nos deu e ainda dá. Mas para cada mente vazia ou coração oco há um
outro espírito de fé, se ajoelhando nas escadarias ou bem perto do altar da
Igreja do Bomfim pedindo por outras almas ou cumprindo o prometido após
alcançar sua própria graça.
Se você crê em Deus, em Buda, Alah ou em Oxum não importa, o que quero afirmar é que há esperança. Não é o que o mal não exista, mas certos lugares guardam uma magia que faz a bondade e a leveza emergir. Não sei se são as fitinhas presas nas escadarias da igreja, se são as pedras que fazem o chão do Pelô, ou se são meus irmãos de terra que hoje trazem alegria para este antigo firmamento que já se banhou com sangue. Só sei que Salvador irradia felicidade e me cobre como uma mãe que acalenta seu filho no inverno. Lá me vem uma energia vívida, uma energia que não sinto em nenhum outro lugar.
Uma luz que
infelizmente tem sido ofuscada pelo interesse do governo, pelo descaso dos que
nos representam, mas que o meu povo tem apontado com sua sabedoria e têm
manifestado uma resistente revolta. E hoje também sei que meu deu fé o bastante
pra jurar e esperar que junto aos meus, um dia farei a luz da Bahia brilhar
novamente. Quero ver minha cidade radiante, como ela sempre foi, como ela
sempre será. Tenho esperança que a próxima brisa que o Bomfim enviar para
balançar suas fitas, serão de paz, e além de harmonia devolverão a beleza da minha
Bahia.
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