domingo, 29 de julho de 2012

Fitas ao Bom Senhor!


Não é porque a raiz vive presa a árvore que toda a planta obrigatoriamente depende do que vem da terra. Na verdade, essa relação é de gratidão, é de amor, afinal a raiz é o canal que nutre todo o conjunto, bem como o caule. Então se por um acaso eu me remeto ao meu lar, não faço isso por obrigação, ou porque simplesmente vim de lá, mas sim, porque amo a imensidão cultural na qual fui criada, porque quero o seu bem e porque ela me faz bem também.
Posso ter fantasia nas minhas palavras, mas o que é o Ilê e o Olodum na Bahia, se não isso?! Minha terra respira manifestações, sincretismo religioso, e inspira cor junto a isso tudo. Lá ser negro é orgulho, o diferente é comum, o estranho é só pretexto pra graça e o mar é nossa maior dádiva. Não que na capital não haja quem discrimine, quem se limite e viva à contrariar tudo que grita a sua volta, pois o homem ainda é pequeno e ignorante pra saber agradecer ao Bom Senhor pelo o que ele nos deu e ainda dá. Mas para cada mente vazia ou coração oco há um outro espírito de fé, se ajoelhando nas escadarias ou bem perto do altar da Igreja do Bomfim pedindo por outras almas ou cumprindo o prometido após alcançar sua própria graça.

Se você crê em Deus, em Buda, Alah ou em Oxum não importa, o que quero afirmar é que há esperança. Não é o que o mal não exista, mas certos lugares guardam uma magia que faz a bondade e a leveza emergir. Não sei se são as fitinhas presas nas escadarias da igreja, se são as pedras que fazem o chão do Pelô, ou se são meus irmãos de terra que hoje trazem alegria para este antigo firmamento que já se banhou  com sangue. Só sei que Salvador irradia felicidade e me cobre como uma mãe que acalenta seu filho no inverno. Lá me vem uma energia vívida, uma energia que não sinto em nenhum outro lugar.

Uma luz que infelizmente tem sido ofuscada pelo interesse do governo, pelo descaso dos que nos representam, mas que o meu povo tem apontado com sua sabedoria e têm manifestado uma resistente revolta. E hoje também sei que meu deu fé o bastante pra jurar e esperar que junto aos meus, um dia farei a luz da Bahia brilhar novamente. Quero ver minha cidade radiante, como ela sempre foi, como ela sempre será. Tenho esperança que a próxima brisa que o Bomfim enviar para balançar suas fitas, serão de paz, e além de harmonia devolverão a beleza da minha Bahia.

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