É só que quando a
vida nos contraria, agente fecha os olhos e se recusa a abrir os braços para as
poucas delícias do dia. Mas assim como o dia, a vida também se esvai, na
escuridão ou numa manhã quente. Sem pôr do sol, sem anúncio prévio. Ela
simplesmente voa e nós minimamente pensamos controlá-la com os ponteiros do
relógio.
Foi percebendo isso
que aprendi a respeitar o deserto mesmo amando o mar. Minha alma é azul, meu
coração é onda, eu ainda transbordo, mas estou no deserto e também não me custa
inundar esse lar. Foram minhas vertentes
que me trouxeram aqui, por motivos que as minhas águas ainda vivem a borbulhar
em hipóteses, mas eu sempre serei água, não importa onde, não importa como. Também pode ser libertador ver o vento abraçar a terra, vê-los dançar pra terminar em dunas. São montes secos em movimento, o ar mareia a areia e me faz ter miragens de casa. A natureza lateja, em qualquer canto, ela grita pra me lembrar que tudo vive. A chuva beija terra, a árvore segura o chão, o trovão me energiza e o relâmpago me tira da escuridão.
Todo nômade aprende
a ter o seu espaço sagrado em uma trouxa, então eu posso viver feliz em um
quarto se tenho ar. Quando respeitamos o lugar que nos nutre, a reserva vem em
dobro e assim seguimos, com menos pesar e menos feridas que venham a sangrar.
Apenas deixe um rastro de flores por onde passar e delicie-se com o aroma que
ficar.
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