Vazante

Quando pequena, eu chorava muito. Tanto que senti que minhas lágrimas me prejudicavam. Você sabe, as pessoas sempre procuram motivos pra apontar. Então parei. Chorei sozinha no meu quarto, quando precisei. Pros outros, nunca mais.

E aí cresci. A TPM me fazia chorar uma vez por mês. E acho que tudo bem. Isso, as pessoas aceitam. É uma boa desculpa! Mas chorei fora do prazo, certa feita. Não entendi. Não mais parei. Agora choro sempre! Igualzinho como quando eu era menor. E eu tô em tratamento, sabe? Foi aí que eu entendi que eu me blindei esse tempo todo. Foi deixando de ser eu mesma que eu parei de chorar. Agora eu tô voltando e por isso, chorando.

E hoje eu choro por alegria, por tristeza, de raiva, por reconhecimento e só de achar algo bonito mesmo. Minha psicóloga disse que é bom chorar. Mas na frente dela, confesso: seguro o choro. Ainda não consigo me desarmar tanto. Mas tô chorando e estranhando tudo isso.

Eu me sinto incrivelmente boba quando choro. E eu sei que sou boba, mas não quero que todos saibam. E talvez seja isso que eu precise parar de querer. Eu aprendi que tenho que abraçar meus tropeços. Por isso agora tento aceitar minhas vazantes. Tô aprendendo a deixar a lágrima rolar um pouco. E se alguém perguntar o porquê, vou dizer: deu vontade.