sexta-feira, 23 de março de 2012

Folhas Secas.


Não é só o inverno que passa. Passa-se, a primavera, o verão e então, as folhas caem. Uma queda silenciosa e sem igual, com pura calmaria, com a brisa, monotonia e desolação. A pintura natural é linda, mas o silêncio esconde segredos. O estático é a ausência do movimento. É a ausência do que me movimenta.
Um vendaval passou, bagunçou o que eu tinha como certo e me fez querer seguir num redemoinho de magia. Loucura minha, achar razão na inexatidão dos seus atos. Sem sentido, sem explicação o seu modo de pensar ou agir sem pensar. Mas tanto faz, porque tua turbulência já não me afeta. Não me causa rancor ou dor. Me dá preguiça, me cansa, me deixa blazé.

Árvores maduras se acostumam com o Outono. A nossas reservas às vezes caem e senti-las espatifar no chão sempre, é desperdício. Conformamo-nos com a lei da vida, a mesma que nos leva, a mesma que nos traz e que nos energiza nesse ciclo infinito.

Mas algo ainda me intriga: a sua vinda é só passagem, é peça importante, personagem integrante ou protagonista desse tronco que aqui se mostra? Nutra-me de respostas, seiva misteriosa. Alimenta-me com tua compatibilidade, usa tua inteligência e não infantilidade e me mostra duma vez a tua verdade.

Verdade, que muito mais florida eu estaria, se a minha irmã de raiz ao meu lado estivesse. A minha dama de preto, minha protegida.  Em tributo te resgato em memórias, nunca te deixo, nunca te busco, mas de ti pra sempre cuido há milhas de distância. Na terra seca e abandonada, espero tua umidade adorada, que também julgo cercar-me de zelos.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Free.


Ás vezes o corpo parece minimamente limitado, por aprisionar em suas comedidas extensões tantas vontades. Sinto muito, mas muito além do que meu corpo suporta. Mas tanto, que às vezes descarrego injustamente e falo da boca pra fora.
Falo muito também, falo tudo, falo o que penso e o que temo. Pois vejo muito e parece desperdício ver e guardar... Ah, são tantas palavras, que os meus limites físicos, transbordam e logo desembocam num descontrole elementar.

Elementar é a liberdade, é livrar-se das amarras do mundo. É ser por ser, sem dever, nem esconder que o que há no mar, não é só mistério.

Misterioso é o criador de tudo: diversas formas, falante ou mudo, nos fez pequenos e em nós pôs um pouco de tudo. Tudo, que por tão extremo, não cabe em mim, não cabe em si e assim transforma meu corpo em copo. Frágil e velado, transparente e gelado enquanto produto. Apenas mais um copo na prateleira, com os mesmos métodos de fabricação de qualquer outro, mas que por um acaso se arriscou a ser bem mais que um copo. Agir como deveria ser um corpo.

Estranho é mesmo perceber, que o humano logo se confunde com objeto. Pois suas características se perdem no tempo, se perdem com todos, que copiam e como copos deixam-se comprar. Compra-se o sorriso, compra-se o amor, vende-se a liberdade até que se cansa. Porque lutar como mar se fomos feitos para aprisionar nossa própria medida de água?
Cansei disso, dessa corrida pela imensidão que sinto. Pois meu corpo sim, é vivo e o meu mar agora escolhe suas batalhas. Afinal amar é muito pra terminar em copo. E competir é mesquinho diante da imensidão oceânica. Eu quero é mar, é ir a qualquer lugar, não-mar um rio tão livre como eu, cruzar nossas correntes no cabo da boa esperança. Turbulentamente em bolhas do sentimento que eu sempre fui , esperando alianças.