domingo, 6 de maio de 2012

Grama negra.


Aterrissando em terras férteis percebi o quanto estava dependente do deserto. De repente, a sensação estática que me tomava apenas nessas raízes sem vida, me tomou também na chuva. Entre rios, me senti seca, como a grama que queima na estrada.

Da ausência para abundância da minha essência (a água), senti que sugaram todo o verde que habitava em mim e agora eu só transparecia areia. Minhas folhas eram negras, minha cabeça desintegrava, minha razão foi consumida, nada era o que restava. Mas foi para fugir disso que viajei pro mar, então o tudo, rapidamente perdeu seu sentido.

Parece que levei comigo os problemas do sertão, mesmo estando em fartura. E assim fiquei, inconformada e insatisfeita, por ter as mãos atadas e desnecessariamente aflorar na mente a decadência humana.

É agoniante se dar conta que o seu próximo passo depende de uma decisão sem solução. Todas as minhas opções se enrolavam e só se desfaziam em linhas perigosas, me fazendo optar por esquecer as retas para viver em curvas... Desviando-me, me perco, mas também não caio e ainda tenho o direito de me agarrar em qualquer objeto firme no caminho. Caminho, o meu nunca se dividiu tanto!

Depois de ter a seiva queimada, acordo no dia seguinte debilitada, mas vejo água. A dúvida foi perdendo a cor e foi aos poucos sendo tomada pela certeza... O meu caminho começou a se formar. Tudo se adequou como uma dança, vi o mar e me senti dedilhada por um piano de gotas. Fui envolvida pelo chiado de terra molhada e revigorei-me, enquanto pude. Mas como embebedar-se é desolador, com as mãos molhadas tive medo e agora tranquilamente espero, até que o meu verde tome o seu verdadeiro tom.