terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Água


Há tanto que me atravessa enquanto meu olho repousa sobre a vida. Na verdade, nesse exato momento sinto muito. Sinto pelas minhas queridas amigas que pensam ter perdido partes de si. Sinto pelo meu coração que eu penso ter deixado com um rapaz. Sinto não como alguém que precisa acordar e dar conta da vida. Mas como alguém que é surpreendido por uma onda e acaba molhando-se demais.


Quando digo que é muito, não brinco. Às vezes as palavras parecem pequenas caixas inversamente proporcionais aos sentidos. E nós sabemos que os sentidos enganam. Aprendi com Katiúscia que os corpos pretos são das sensações. Não sou capaz de desmenti-la nem por um fio. A onda não correu, ela segue aqui em mim, banhando-me.

Estou banhada, inunda, tão cheia e tão desarmada. Tão sem noção sobre as táticas do amanhã, porque o destino não é coisa que eu dê conta. Nenhum de nós dá. E é por isso que é assustador. O tempo todo escolhemos isso, ao invés daquilo. O tempo todo optamos por tropeçar em um lado e esbarramos nos nós da vida. Eu acredito que há uma linha invisível que me conduz. O mistério é não saber o que há da outra ponta e me negar a seguir o fio, vez ou outra.

Mas sigo. A essa altura já sou a própria onda. E meu raciocínio, que você pode julgar ilógico, te trouxe até aqui. Seu olho repousa sobre quem você acha que eu sou, mas você não pode me alcançar. Eu viro mar! E eu amarei. Mesmo que eu não siga a linha das convenções. Mesmo que a maresia me distraia ou que a correnteza me atropele, sempre me puxando pro fundo. Eu não tenho controle sobre essas sensações, mas sei que não sou de beiras. Sou líquida, intensa, sou algo entre a lucidez e a loucura completa. Completa, viu?! Completa.

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