sábado, 30 de abril de 2016

Fuligem


Eu gosto da confusão da cidade. Eu gosto do formigueiro das ruas, de quando estou no ônibus e vejo um tantão de gente exausta. Pessoas que assim como eu, tiveram um dia intenso e que têm naquele instante, a breve oportunidade de deixar que o cansaço se espalhe.

Veja bem, eu gosto de pensar numa vida tranquila. Num canto em que a gente respire menos fumaça e sinta a alegria em estar são. Eu penso num amanhã menos cinzento. E sei que as cidades podem ser cruéis. Mas gosto de ver a engrenagem humana se movimentar.
Ora, a gente se pôs numa caixinha de asfalto, mas ainda é gente! Gosto quando vejo a gentileza do menino que cede o lugar para a senhora. Quando uma estranha ri pra mim, só por ter visto a loucura que é ser urbano. Me sinto plena quando as luzes dos faróis dos carros, enquadrados no fim de tarde, me cegam instantaneamente e me lembram do amanhã. Mais ainda quando eu olho pela janela e vejo um garoto dançando sem motivo. Quando eu penso nos milhões de destinos que se esbarram todo santo dia através de uma rotina.
Eu gosto do barulho dos que vivem. Da calmaria que se mistura com o concreto. Como a árvore que nasceu no passeio. A senhora que caiu ao atravessar a rua e fez um ponto inteiro correr pra erguê-la, veja só!
Eu gosto da lágrima, do riso, da arte, do grito, de tudo que não faz sentido na cidade. Porque tudo isso é muito humano. Porque tudo isso é espelho e não há porquê fugir do que somos, quando juntos estamos. A cidade é um sussurro constante do que é viver.

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