Porque nenhum verso, ainda que em prosa, é igual ao
outro. Ainda que nesse caso, o assunto seja o mesmo, a sensação é outra...
Sempre venho por meio dos meus, expressar um turbilhão de sensações, então hoje
resolvo contrariar-me. Pois também passo invariáveis dias sem sentir nada, ou
sem saber ao certo o que sentir e talvez paradoxalmente, esses sejam os dias
que mais me incomodem.
Estou diante de verdades: as que os outros vêem, a
que eu vejo e a que eu quero. Queria poder dizer como sempre, que as dos outros
não tem valia, mas acontece que dentro do que eu vejo, há uma pontada racional
de desconfiança e isso impede que eu acredite no que eu realmente quero. Certos
quereres deveriam ser absolutos para não permitir a dúvida! Assim todos iriam
querer e por si só, a vontade bastaria.
Mas a vontade não me basta, pois eu tenho um cérebro
e ele clama por pistas, evidências e precisa ser alimentado. Um cérebro feroz,
ácido e machucado. Pois os sentimentos também o machucam, e não posso
simplesmente ignorá-lo. Tenho neurônios que fervem quando te vejo, que não se
conformam com essas sensações, que te julga, que te condena, que te admira e
confia. Então eu fico assim, cheia de pudores, cheia de amores e desconfianças,
e no fim, simplesmente não sinto.
Fico estática, como se o tempo parasse e eu
estivesse em uma outra dimensão, esperando um milagre que organizasse as minhas
idéias e me fizessem sentir a certeza de algo. No mesmo momento que desisto, eu
corro, e meu corpo quer acompanhar minha mente nessa corrida com tanto prazer,
que não consigo evitar essa necessidade... e se eu de fato corresse, sem
pensar, sem sentir, as certezas voltariam
pra dentro de mim? Todas as partes do meu corpo respondem que
“sim”, só falta mesmo, a coragem tomar conta de mim.
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