terça-feira, 9 de abril de 2019

Líquida e funda


Eu mergulhei e me encolhi no fundo do meu oceano. Longe de todo esse barulho etéreo e terrestre. Onde o burburinho é distante e eu posso estar apenas comigo. Aqui, minhas lágrimas salgadas estão em casa e não me envergonham.

Só assim não preciso beijar a boca que vocês me incubiram. Não preciso compreender que as suas expectativas, que são tão somente suas, eu devo atender. Aqui, minha graça provocativa não tem tom de ofensa. Não preciso bajular as frágeis crianças que tiranamente precisam ser convencidas pelos meus discursos. Aqui meu gênero pouco importa. A minha postura não necessita de recato. O tamanho dos tecidos que me cobrem interferem apenas no peso do meu corpo.


E eu quero estar fundo. Bem fundo. Onde meu grito ensurdecedor é oco. Onde ele lembra a minha própria consciência. Minha consciência caótica e repleta de culpa. Culpa por estar na minha própria terra e não ter aprendido a reivindicá-la. De modo que mesmo acompanhada, eu estou só e presa. Presa pelas ideias e intenções que vocês acham que escondem, mas que eu vejo flutuar sob suas cabeças.


Mas não importa, porque aqui no fundo, eu estou só e talvez assim, eu finalmente possa respirar. Talvez assim, eu consiga a paz que persigo. Talvez assim, meu coração fique mais leve.

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