Ser bem articulado, ter boa
armadura e maturidade não é sinônimo de vida tranquila. Tem resposta que a
gente guarda num cantinho inóspito de nós mesmos e no desespero, a gente vai
deixando as preocupações turvarem a visão, tanto que alguém precisa pegar a
lanterna e apontar pra a gente a solução.
Decerto, a clareza não vem pra
todos. Mas até o mais atento dos homens pode sofrer por dispersão. No fim do
dia, todo mundo se precisa um pouco. Empatia é o que falta, dizem no sermão.
“Você sabe cuidar tão bem de si, que
a sua dor pode ficar pra outra hora. Afinal, você vai saber resolver. Você
sempre resolve o problema dos outros tão bem!” Dos outros. Talvez você seja só um vigia com uma boa lanterna, but who cares anyway?
Vivo moldada pelas caixas
perfeitas alheias. Vira e mexe eu teimo e decepciono o projeto que criam de
mim. Eu não quero a paz dos outros, se eu não tenho a minha. A minha essência é
tudo que tenho pra sobreviver. Desculpe, mas a diplomacia de nada me serve se
for pra eu pisar no que quero ser. Eu tenho projetos, viu? E talvez não seja
bem o que você está pensando. Não vou exitar em fazer, o que acho que fui
colocada aqui pra fazer.
Na minha liberdade ninguém tasca.
Não me invada achando que vou sorrir por pura convenção social. Eu vim no tom e
na cor do escárnio. Do massacre quilombola ao discursar de Mandela. Não vou
sentar, não! Nem aceitar.
Eu faço careta pra me estabelecer,
mas tenho minhas fragilidades. Você achar que a minha carne é dura e por isso
não sangra, é puro comodismo. Eu grito, porque arde. Eu choro em silêncio
também, porque não quero ser covarde. Eu não vou esquecer. Eu não sou tão sagrada
quanto queria. A sua indiferença já deixou marca, daquelas que tenho que
remediar no fim do dia.
Me olha de longe mesmo. Vai
deixando eu me virar. É assim que eu percebo, quem tá comigo e quem não tá.
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