domingo, 2 de abril de 2017

Interesses


É tão frágil a atenção nos dias de hoje. Ela tem prazo de validade, dose certa, palavras comedidas e prescrição exata. Você sabe, a minha dedicação termina onde meu interesse acaba.

Há um ego faminto que precisa ser bajulado pelos meus amigos. Se não, pra quê mais se rodear de gente? Eu preciso vender, parecer, atrair e nada mais. E não importa quem feriu ou ficará ferido, contanto que eu pareça feliz no final. Contanto que eu caiba na minha caixa social. Aquele perfil que eu vendi.

Eu preciso corresponder às expectativas da minha tribo. Você sabe, a imagem que eu construí por todos esses anos. Eu não me importo tanto com você, se você não está me ajudando. Porque é claro, a gente precisa ajudar pra ser ajudado. Doação é atividade passageira, nada muito intenso ou que me seja muito caro.

Eu tenho que parecer boa o suficiente, gentil o bastante, presente para os mais próximos, devo ter um coração gigante. Mas se você me liga em horário impróprio, mil desculpas, mas não vai dar. Afinal, todos nós temos prioridades.


Eu vou jogando pra debaixo do tapete aquela angústia, aquele tropeço que a gente deu. Nós não precisamos brigar, não é? Não precisamos criar cena para o público. A nossa amizade vale mais. Mas lembre-se: minha dedicação termina, onde meu interesse acaba.

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