sábado, 5 de julho de 2014

Lembrar


Gritei sem voz ao fundo “lembra?”. Abri a boca, mas não consegui dizer. Parte de mim era determinada, a outra esperneava em soluços repetindo “como você pôde esquecer?” E eu... eu não esqueci. Eu não esqueço nunca! ESSE é o meu maior problema.
Algumas coisas eu gostaria de apenas apagar, mas isso não está em mim. Eu pareço uma vitrola com um vinil travado. Quando sobrecarrego, minha agulha não roda. Ela fica lá... extasiando-se no mesmo trecho, tentando dizer no engasgo que algo está errado. Não posso seguir em frente até que você delicadamente me empurre. Até que você... realmente me entenda. Porque quando você não enxerga o arranhão do vinil, não importa quantas vezes você o evite, a agulha transcorrerá aquele trecho. A vitrola vai travar mais uma vez. E de novo... e de novo. E eu não posso de novo.

Perceba que isso impõe sofrimento. Sofrer ainda é uma opção. Eu não quero, entende?! Não sei dizer se a memória é benção ou maldição. Só sei que a carrego e o meu sorriso solitário não param os meus registros. Meu cérebro anda comigo. Eu ando porque ele me permite andar.
Andemos sim, quem disse que gosto do estático?! Me incomodo tanto, que sinto penosamente as minhas travas. Mas até elas, não posso evitar... não só. Não sorrindo pra satisfazer o público. Não pulando a trava pra que nos sintamos melhor. Ela vai voltar em um ciclo. Ela estará sempre lá, no outro lado do disco, esperando que você a esqueça só para que a música pare de tocar.
Não paremos. Não esqueça. Me garanta que andamos. Me garanta que a agulha não vai voltar pra aquele mesmo ponto. Amanhã, você vai lembrar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário