Gritei
sem voz ao fundo “lembra?”. Abri a boca, mas não consegui dizer. Parte de mim
era determinada, a outra esperneava em soluços repetindo “como você pôde
esquecer?” E eu... eu não esqueci. Eu não esqueço nunca! ESSE é o meu maior
problema.
Algumas
coisas eu gostaria de apenas apagar, mas isso não está em mim. Eu pareço uma
vitrola com um vinil travado. Quando sobrecarrego, minha agulha não roda. Ela
fica lá... extasiando-se no mesmo trecho, tentando dizer no engasgo que algo está
errado. Não posso seguir em frente até que você delicadamente me empurre. Até
que você... realmente me entenda. Porque quando você não enxerga o arranhão do
vinil, não importa quantas vezes você o evite, a agulha transcorrerá aquele
trecho. A vitrola vai travar mais uma vez. E de novo... e de novo. E eu não
posso de novo.
Perceba
que isso impõe sofrimento. Sofrer ainda é uma opção. Eu não quero, entende?!
Não sei dizer se a memória é benção ou maldição. Só sei que a carrego e o meu
sorriso solitário não param os meus registros. Meu cérebro anda comigo. Eu ando
porque ele me permite andar.
Andemos
sim, quem disse que gosto do estático?! Me incomodo tanto, que sinto
penosamente as minhas travas. Mas até elas, não posso evitar... não só. Não
sorrindo pra satisfazer o público. Não pulando a trava pra que nos sintamos
melhor. Ela vai voltar em um ciclo. Ela estará sempre lá, no outro lado do
disco, esperando que você a esqueça só para que a música pare de tocar.
Não
paremos. Não esqueça. Me garanta que andamos. Me garanta que a agulha não vai
voltar pra aquele mesmo ponto. Amanhã, você vai lembrar?
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