Há
milhões de pessoas no mundo e cada uma tem uma energia mui particular. Nós
estamos sempre emanando algo: quando nos envolvemos, nos relacionamos, nos
desentendemos, ou nos frustramos. E quando escondemos, acredite que algo também
fica no ar.
E
energia não se disfarça com perfume, meio sorriso ou maquiagem. Não adianta
malabarismo, não tem como evitar. Então eu senti o inevitável. Eu senti por
meses a angústia do disfarce. Todos estavam sempre sorrindo, com gestos polidos
e de maneira muito gentil abrindo os braços pra mim. Mas a energia emanada
dizia “não quero ir além”. E isso me fazia pensar.
E
eu pensava “deve ser paranoia minha”. Não raro sou tomada de louca, afinal tenho
as minhas neuroses, minhas ansiedades e depressões. Mas a vida já me mostrou
que a minha intuição não falha e isso nada tem a ver com a fragilidade da minha
psiqué. Foram os atores sociais que
me ensinaram a desacreditar de mim e me implantaram a culpa. É tão difícil
desaprender esses hábitos! Era tão denso aquele ar envolto nos seus gestos!
Era
claro! E eu pensava “o que eu fiz?”. Eu remexia a memória pensando que pudesse
ter dado causa. Claro, não encontrava razão. E se não há motivo, não há o que
temer, certo? Errado. Certa feita, eu li que pessoas boas atraem pessoas
quebradas. E pessoas quebradas se sentem pequenas perto de almas completas. Elas
quase que por instinto tentam destruir o que temem, não entendem ou o que
gostariam de ser. Então nem sempre as pessoas se viram contra você, por simples
ação e reação.
Tente
contrariar a maré, ou tente inspirar tudo o que alguém já quis, isso basta. Por
isso, eu ovelha desgarrada, canso de ser corpo estranho nesse mar de energias
confusas. Eu não quero meio sorrisos, conveniência, aperto de mão escorregadio.
Quase sempre parto inesperadamente. Muitas vezes penso ser tardiamente. Suas energias
impõem pressão sob mim e os meus olhos estão sempre atentos à rebordosa, vendo
cada pequeno passo calculado que você dá e acha que ninguém percebe.
Eu
lembro quando você, muito amigavelmente e sentade ao meu lado, falava de si mas
não podia me encarar. Eu ali pensei “nem assim a energia cedeu.” Mas fui
teimosa. Eu gosto de pôr tudo a prova e te dei meu voto cego de confiança. Eis que agora cansei. É hora de tomarmos
nossos verdadeiros papéis! Te dei nas mãos o presente de convencer ao mundo que
sou louca. Então, divirta-se! Plateia pra mim sempre foi coisa pouca. Eu tô bem
no meu canto, eu tô com os meus.
Você
que fique com a ferida exposta. Com o furo que eu deixei. Com as vozes se
perguntando quem teria dado vazão pra tal medida desproposital. Não acho que
você vai sentir culpa. Mas o teu perfume não vai cobrir essa densidade por
muito tempo, meu bem.
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