quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Energia



Há milhões de pessoas no mundo e cada uma tem uma energia mui particular. Nós estamos sempre emanando algo: quando nos envolvemos, nos relacionamos, nos desentendemos, ou nos frustramos. E quando escondemos, acredite que algo também fica no ar.
E energia não se disfarça com perfume, meio sorriso ou maquiagem. Não adianta malabarismo, não tem como evitar. Então eu senti o inevitável. Eu senti por meses a angústia do disfarce. Todos estavam sempre sorrindo, com gestos polidos e de maneira muito gentil abrindo os braços pra mim. Mas a energia emanada dizia “não quero ir além”. E isso me fazia pensar.

E eu pensava “deve ser paranoia minha”. Não raro sou tomada de louca, afinal tenho as minhas neuroses, minhas ansiedades e depressões. Mas a vida já me mostrou que a minha intuição não falha e isso nada tem a ver com a fragilidade da minha psiqué. Foram os atores sociais que me ensinaram a desacreditar de mim e me implantaram a culpa. É tão difícil desaprender esses hábitos! Era tão denso aquele ar envolto nos seus gestos!
Era claro! E eu pensava “o que eu fiz?”. Eu remexia a memória pensando que pudesse ter dado causa. Claro, não encontrava razão. E se não há motivo, não há o que temer, certo? Errado. Certa feita, eu li que pessoas boas atraem pessoas quebradas. E pessoas quebradas se sentem pequenas perto de almas completas. Elas quase que por instinto tentam destruir o que temem, não entendem ou o que gostariam de ser. Então nem sempre as pessoas se viram contra você, por simples ação e reação.
Tente contrariar a maré, ou tente inspirar tudo o que alguém já quis, isso basta. Por isso, eu ovelha desgarrada, canso de ser corpo estranho nesse mar de energias confusas. Eu não quero meio sorrisos, conveniência, aperto de mão escorregadio. Quase sempre parto inesperadamente. Muitas vezes penso ser tardiamente. Suas energias impõem pressão sob mim e os meus olhos estão sempre atentos à rebordosa, vendo cada pequeno passo calculado que você dá e acha que ninguém percebe.
Eu lembro quando você, muito amigavelmente e sentade ao meu lado, falava de si mas não podia me encarar. Eu ali pensei “nem assim a energia cedeu.” Mas fui teimosa. Eu gosto de pôr tudo a prova e te dei meu voto cego de confiança.  Eis que agora cansei. É hora de tomarmos nossos verdadeiros papéis! Te dei nas mãos o presente de convencer ao mundo que sou louca. Então, divirta-se! Plateia pra mim sempre foi coisa pouca. Eu tô bem no meu canto, eu tô com os meus.
Você que fique com a ferida exposta. Com o furo que eu deixei. Com as vozes se perguntando quem teria dado vazão pra tal medida desproposital. Não acho que você vai sentir culpa. Mas o teu perfume não vai cobrir essa densidade por muito tempo, meu bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário