Eu
queria poder me abaixar sem temer que ao me empinar, alguém passasse e me
tirasse o pedaço com os olhos. Queria que a minha carne aparente, fosse carne
como qualquer outra e não o menú principal de algum predador.
Eu sei
que a gente é carne e perece. Só que a maioria esquece e se aquece com muito
pouco. A gente dá valor demais ao que é fresco. A gente inventa maneiras mil de
cozinhar. Há sempre um jeito novo de assar ou fritar. Um ângulo novo para se
sexualizar. Um canto do corpo à amostra que é tentação.
A
carne fica flácida e desintegra. E o processo dói. Os anos vão! E como humana e
mulher, eu tô sempre insatisfeita mesmo. Por isso admito, pra não ficar de fora,
é claro que eu desejei uma carne a mais aqui ou ali. Mas os anos me fizeram
lidar melhor com essa falta.
Não me
apetece o ciúme do excesso. O belo que advém de uma fartura da casca. É bunda, é
peito, é coxa e canela. Mas a cintura é fina, viu? Então, controla a boca. E
não adianta, é sempre além. Não faz diferença dar o mundo em poema, aquecer no
abraço, dar um giro no espaço, pra dormir pensando nas bundas, nas coxas, nas
canelas e nas cinturas finas que você não tem.
Porque
mulher tem aos montes. A estatística prova: somos maioria! Muito treino, pouca
caloria. Cozinheira de mão cheia, mãe exemplar. Maquiagem de rainha, conduta de
princesa. Excelência na mesa e na cama. Te daremos a cara até pra apanhar! Servir
ou dar.
Me
desculpe, mas não vou me espremer num tubinho pra você me notar. Não vou tirar
a carne em excesso, nem inxertar volume onde te agrada. Se eu deixar minha pele
aparente, é porque quero fresco e não ser o prato da casa. Se eu quiser ser
mãe, se eu quiser malhar, se me apetecer a gastronomia, tudo bem. Contanto que eu esteja em primeiro lugar.
Eu não
sou sua, nem de ninguém. Eu não serei segunda opção. Não sou boneca de
plástico, então não me ponha na prateleira, nem me requisite quando lhe convir.
Não estarei aqui pra te servir ou ser consumida. Não sei fazer a janta e não
vou limpar a sua imundície.
Eu
quero apenas estar confortável sob a minha pele. Eu quero rir sem limites. Eu
quero compartilhar vivência com quem me cerca. Discutir teorias, ampliar minhas
ideias. Dividir minha ótica com o mundo. Temer ser trocada por carne, não é uma opção.
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