Ás
vezes me sinto como um narrador-personagem de um drama cinematográfico. Cruzo
com pessoas de grandes pesares, ou que pelo menos tem grandes achares de que
sofrem pesares. A grande questão dessa curta narrativa que me pus a fazer
agora, veio de um raciocínio que tive esta manhã. Trata-se na verdade, de uma conclusão
sobre o modo de sentir humano e sua visão um tanto limitada sobre o que sente.
Muitas
vezes somos acometidos por situações que nos fazem perder o chão e as estruturas.
Cedemos pra tristeza e perdemos parte de nós por um momento. Leva tempo, mas
nos reerguemos e também a partir dali aprendemos o que causa a ferida e como
podemos evitá-la. Cada um de nós tem a sua fórmula e seus tropeços peculiares,
assim como pra cada um de nós o mesmo tropeço chega de um jeito diferente.
A gente aprende que
não dá pra botar todo mundo numa sacola só, pois somos diversificados na nossa
essência e é justamente a falta de padrão que nos faz essenciais! Darwin define
isso como a evolução da espécie. É preciso a controvérsia pra evoluir, afinal
de contas. Mas e quanto ao vazio que fica pra quem acabou de levantar do maior tombo? Quem é que versa sobre esse
momento? Quem é que fala sobre o sentir das transições e do tempo?
A verdade é que
ninguém sabe ao certo o que sentir nesses meio-tempos. A gente tá sempre
escolhendo entre mirar o passado e deixar-se levar, ou focar no futuro e
suportar. Foi então comparando as minhas quedas com a de outros personagens,
que me dei conta de que tudo é uma questão de perspectiva.
É tudo uma questão
de como internalizamos o acontecimento e como nos posicionamos diante dele.
Costumeiramente enquanto somos desafiados, nos colocamos na posição de vítima e
então torna-se difícil dar o próximo passo. Mas o tempo nos obriga e a
sociedade nos empurra. Então andamos tortamente e mal humorados, muitas vezes
sem tirar algo significativo do tombo. Alguns, bem mais pra frente, ainda compreendem
que aquilo foi crucial pra seu amadurecimento. Há também os que preferem o
conformismo e a perseguição: aquilo só acontece com ele, porque ele é um
azarento e não há razão ou força superior que mude este fato. Um fato discutido
nas bases do azar, tão maleável e subjetivo quanto um Deus.
“Então eu fui a
vítima e a minha vida de pesares foi a mais sofrível do meu círculo social. Não
tive a má sorte dos miseráveis, mas não gozei das prerrogativas da maioria. Eu
preciso crescer, mas se erro com você, é porque sofri e não aprendi. Não pude
aprender, a vida me fez assim.” Percebe a incoerência?
Enquanto
protagonistas a nossa dor é sempre a mais sentida e a mais pesada. Mas quando a
gente olha em volta, o miserável pode estar superando com ainda mais maestria
aquela ferida. Não se trata de sorrir sempre. Mas de perceber que às vezes
sentir foi necessário, que não há mal algum nisso, que se veio daquele jeito
pra você é porque pra sua embalagem aquela controvérsia cabia melhor.
Não seja a vítima
do seu próprio destino. Não queira ter sofrido mais, ter apanhado demais, ter
sido um vencedor de coração remendado. Pense em ser um lutador, um sábio que
precisou de algumas quedas pra adquirir sabedoria, alguém que transforma a dor
no ânimo pra recomeçar. Tire lição de tudo aquilo que te fez parar. Se lamente
quando precisar, mas quando passar só use a lembrança pra dar um passo a mais
no seu caminho. Seja o senhor do seu próprio destino.
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