segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Cinemática


Psiiiiiu, vai começar! As luzes se apagam e a magia acontece. Então eu paro e vejo, duas criaturas a viver uma situação inusitada tão similar à um instante em que passei. Parei e pensei. Na provável hipocrisia do meu intimismo. No meu assumido modo de expor a verdade e me esconder em mim.

Sinceramente? Gosto da verdade em todos os aspectos. Pra mim, ela deve ser dita, se mostrar e as pessoas vesti-las, sempre que poderem, do jeito que quiserem, contanto que seja real. Mas gosto do meu espaço. Gosto do meu canto inalcançável, não quero que o público entre nele e remexa em mim. Me decodifique por inteira e divulgue o que há aqui. Não quero mesmo ser propaganda social. Quero causar revoluções mas de valores éticos necessários. Mudar o que for preciso, quando preciso for.

Tenho mesmo que me mostrar pra ter moral? Exibindo-me, penso que serei moralizada e não causarei impactos de consciência. E um fato é certo: análises me incomodam. Meu perfeccionismo me prende a um mundo em que meus erros e falhas me angustiam. Sei disso, conheço bem meus deslizes, mas não os quero apontados por terceiros. Isso é um erro?

Talvez. Quero o certo às claras e estou em parte às escuras. Mas nessa coisa da busca pela perfeição, sei bem que há utopia e portanto não me encaixo. Aprendi a ter orgulho dos meus desajustes, isso me caracteriza, personifica minha marca. Sou eu, me mostrando e me escondendo quando posso. Observando sempre.

Vendo que na maioria das vezes, quem mais se mostra pouco diz sobre si. São propagandas incoerentes da indústria que massifica padrões. Sou do tipo produto diferente, não quero me misturar a essas multidões. Quero verdade, me doar aos que merecem e que perseguem a justiça, assim como eu. Parte deles já tenho, denomino-os amigos, parceiros de filmes inteiros. Cinemáticos íntimos e meus. Caricaturas revolucionárias da vida, que carrego no lado esquerdo do peito.

Menina


Gosto de ter a alma levada pela leveza das crianças. Ter fé nas pessoas, na vida, deixar que o vento me carregue num balanço imaginário. Ser menina sim, mas não ser infantil. É possível?

Causar confusão é o tipo de coisa que esse espírito provoca. Gosto de tudo que me faz pensar que ainda sou jovem, afinal é bem verdade que ainda sou, mas falo do que tange ao gosto, às manias ou ao estilo. Não é porque aprecio a inocência que eu seja ingênua ou não entenda da dor do mundo. Pior, não sou criança a ponto de viver à margem da sociedade e pensar que vivo num conto de fadas.

Não, eu vivo o mundo mas sob a minha própria perspectiva. Gosto da subjetividade, da poesia e do ritmo. Sou realista também, quero mudar o que vejo quando abro os olhos, quero melhorá-lo, fazer diferença nele. Mas em momentos de fuga espiritual, gosto da Alice, dos bosques, do mundo de cores e sabores, sempre doces. Não sou imatura pra mascarar o mundo. Mas acho que os sonhos o movem.

Os transformadores viajam em contos. Ou você realmente acha que os de mente criativa param pra avaliar a bolsa de valores? Dou valor aos economistas, mas prefiro a fantasia. Tudo em seu momento específico. Assumo a postura que preciso quando me é cobrado. Me visto dos sonhos mas compreendo o mundo como ele é. Até porque nem tudo é o que parece, não é mesmo?

Bobagem isso de mascarar-se de seriedade para se mostrar consciente. Inteligência e maturidade, não se compra no mercado. Estilo não configura profundidade mental. Mania humana de associar o abstrato com o palpável, isso é só pra tudo parecer mais confortável? Pois bem, sou a antítese e causo incômodo. Não me limite pelos meus risos e preferências, pois dessa forma analisarás minha miniatura incoerente e nada entenderás sobre mim.

Não quero ser princesa, mas gosto dos rabiscos dos desenhos infantis. Gosto de finais felizes e quero terminar dessa forma na terra que me criei. Quero fazer outros finais tão mágicos quanto. Quero ser menina enquanto viver, mas pensando como uma mulher capaz de fazer esse mundo crescer.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

La mér



No francês, meu lar que naturalmente é moço, se torna mulher e nela hoje vou me perder. Falar do passado, do que passo e de onde quero estar. Tudo porque no início eu era mar, mas via deserto. Areia por todos os lados, calor e seca em todo espaço ou rastro de visão. O tempo passou e daquele mesmo modo nômade que costumo ser, voltei pras minhas águas. Voltei, mas ainda sentia as dores de viver em dunas. Eu não era, só contemplava “o ser” alheio. Então, depois de um longo suspiro me dei conta que o ardor do sol mexeu comigo, afinal só em delírios contemplar as ondas me bastaria.

Eu precisava mergulhar, deixar essa coisa de terra um pouco de lado e voltar a ser quem eu era, quem realmente sou.. Saltei da areia e corri pra água, pra nadar na imensidão que persegui por 2 anos soltos no espaço. 730 dias de escassez com estranhos benefícios. Até porque nem a dor consegue ser plena quando a alma não é pequena.

Pequena eu sou neste mundo, mas me sinto livre enquanto a água me completa. Meu pulso só corre enquanto escorro nessa dimensão imersa, borbulho versos incompletos de uma conversa, um pensamento, um sonho sem senso. Mas só em prosa venho declarar a minha satisfação de finalmente estar com ela. De afundar no meu lar. Porque o fundo aqui, não é sombra mas sim, beleza oculta.

Tive que passar 3 dias omissa, pra entender na alma  que só o que me fazia pensar era estar no meio desse movimento. No balanço das marés ou no burburinho do povo. Ah, o povo! Esta minha gente que no meio do caos dança uma música inaudível e ri sem motivo. Coisa de conto, mas que eu vejo na rua, num dia de tédio, calor e fervência. Sim, pois as profundezas das águas podem ser frias mas a superfície esquenta!

Ah, meu lar. Meu canto, encanto de Deus dará. Minha Bahia de todos os santos, todas as crenças e orixás. Voltei pra ti, deságuo aqui e nunca mais quero te deixar. Só vou até onde meus versos me levarem e suas águas me carregarem, além mar.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Me guia



Então é 2 de Fevereiro, dia da rainha do mar. Rainha que guia o terreno da minha alma, mãe das águas, de nome Yemanjá. Assim como seu reino, ela é mistério, seus enfeites brilham em encanto, sua calda e seu manto me cobrem com graças que não sei explicar. E hoje me vi lá, num barquinho com o olhar vidrado no horizonte, balançando ao ritmo da correnteza, tudo em nome dessa sereia!

Mulher ou mito? Figura danada, que mesmo em seus dias me faz navegar! Fui parar nas profundezas do meu corpo, viajei nas ondas dos meus pensamentos e no que estive a desejar. Vi que conquistei o que queria e que podia estar a um passo de ter muito mais. Cumpri a promessa que fiz em terra e que me fez transbordar por meses. Eu estava lá. Com as ondas debaixo dos meus pés, enfrentando o mar que eu queria, o mar que sempre me pertenceu.

A brisa dessa vez me beijava e não me levava como num vendaval. Eu, as flores, as alfazemas e outros que creem na mulher sereia. Por um segundo, esqueci que não estava só e pude conversar com ela, falei com o ar. Pedi por mim, pedi pra acalmar o turbilhão que invariavelmente surge em mim, dar um basta nessa correnteza que me arrasta pro nada. Quero nadar, navegar pra frente sempre!

Minha sereia, te sinto agora como esta manhã jurei estar contigo. Este é mesmo o caminho não é? Posso gotejar as vezes, mas sei que estarás comigo. Sei que teu azul me guia e que seu misticismo me energiza. Me enche Yemanjá, com tudo que sabes que posso suportar, me agregue novamente às suas águas. Quero ser sua filha, quero te mimar, cuidar também da minha raiz Terra que te beira, cumprir meu destino e em ti desembocar.