segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Dentro do relógio.

(originalmente escrito em: 27/02/2012)


Sempre que idealizamos um mundo novo ou entramos supostamente nos nossos sonhos, fazemos isso em um tempo diferente. Nesses lugares os ponteiros giram de outro jeito, às vezes rápido demais, outras um pouco mais lentas e ainda há a possibilidade do estático. No último caso, ficamos nessa outra dimensão e quando acordamos o tempo volta a correr exatamente no mesmo ponto em que havia parado. E é observando esses pequenos detalhes, que podemos concluir que o tempo é mesmo o maior temor humano.

Isso simplesmente porque ele é abstrato, incontrolável, determinista e tem posse de tudo que se passa com a vida na terra. E diante disso, no meu limitado espaço nada mágico, tenho pensado que o relógio também me assombra. Mas não como na maioria dos casos, pelo medo da efemeridade. Acho mesmo que meu espírito é um tanto antigo e invariavelmente imagino como será quando externamente eu tomar essas proporções. Meu temor consiste e pára bem no meio disso tudo.


Parece fácil fazer planos pro amanhã ou lembrar do que foi feito ontem, mas e o hoje? Como a gente passa e resiste ao agora? Não dá para simplesmente cochilar e deixar os milésimos pra depois, o presente é importante e perdê-los não é algo que eu realmente considere. Mas mesmo lutando para aproveitar os meus minutos, tudo parece mesmo perdido. É só que os traços da minha trilha gostam de se mostrar enquanto estou “acordada”.
E quando eles se mostram, não gosto do que vejo, nem gosto de perceber que não posso fazer nada quanto a isso. Só esperar, que o tempo passe, o calor esfrie e de repente eu me ocupe com outras coisas. Eu fui feita pra voar e não pra parar. Não consigo entender a velocidade mundana, afinal a minha mente corre e eu só ando. Ando pensando quantas vezes me incomodo pela sensação que fica quando não há nada a ser feito.

Agora mesmo, eu estou dentro do relógio, me prendendo a horários repetidos, sentimentos conhecidos, refletindo sobre quando a chuva e o sol vão assumir meu ritmo.

La vita.


La vita è bella, non è vero? Ao menos deveria ser. Nos esforcemos então e façamos algo por nós mesmos. Solidariedade e altruísmo são valores bons à se considerar, mas não podem ser postos em prática quando se esquece da individualidade.

 É só que eu tenho gasto toda a minha força vital esses dias e é bem nessa observação que mora o meu pesar. Gasto tudo sozinha e em troca, roubam-me o ar. Acho injusto ver tudo se encaixar e não me esforçar pra juntar as peças. Mas eu não sou criadora de coisa alguma e quando o assunto é vida, as peças assumem seus próprios movimentos. Sou dona de mim e das minhas palavras apenas. Minhas letras, minha honra.
Sinto-me completa apenas quando aposto todas as fichas. Quando libero meu último suspiro por algo que acredito. Mas todo corpo ferido, exige clemência e cautela, e para se manter ativo logo te impede de correr certos riscos. Por assim dizer, quando se sangra, aprende-se que em certas situações deve-se parar. E quando o estático te mantém preservado, a espera te sufoca. Tudo porque a resposta nunca chega.

Sempre foi assim e ainda é. Se continuará? Quem sabe? É tudo incerto, prefiro não ter a confirmação das minhas investidas insanamente calculadas. Sim, porque riscos não acontecem apenas sem planejamento. Sou detalhista demais para não me prender às características da minha dor.
 
Dói ver que coisas simples se perdem, que o meu viver se esvai e não por falta de tentativa. É mais por falta de interesse ou um irônico egoísmo. Afirmo que voltar o olhar pra dentro é necessário, mas talvez seja justamente esse o motivo de meu peito pesar e eu morrer sem as palavras que espero.
 
É, talvez. “Se”, mais uma vez, dúvidas, interrogações, voltas sem fim. Meu pensamento ecoa a velha questão “Por que você não vem pra mim?”. Tanto faz, vou ter que te deixar ir. Mais uma vez, esqueço e fico por minhas contas. Me reparando, tentando sobreviver por mim...