Aterrissando em
terras férteis percebi o quanto estava dependente do deserto. De repente, a
sensação estática que me tomava apenas nessas raízes sem vida, me tomou também
na chuva. Entre rios, me senti seca, como a grama que queima na estrada.
Da ausência para abundância
da minha essência (a água), senti que sugaram todo o verde que habitava em mim
e agora eu só transparecia areia. Minhas folhas eram negras, minha cabeça
desintegrava, minha razão foi consumida, nada
era o que restava. Mas foi para fugir disso que viajei pro mar, então o tudo, rapidamente perdeu seu sentido.
Parece que levei
comigo os problemas do sertão, mesmo estando em fartura. E assim fiquei,
inconformada e insatisfeita, por ter as mãos atadas e desnecessariamente
aflorar na mente a decadência humana.
É agoniante se dar
conta que o seu próximo passo depende de uma decisão sem solução. Todas as
minhas opções se enrolavam e só se desfaziam em linhas perigosas, me fazendo optar
por esquecer as retas para viver em curvas... Desviando-me, me perco, mas
também não caio e ainda tenho o direito de me agarrar em qualquer objeto firme
no caminho. Caminho, o meu nunca se dividiu tanto!
Depois de ter a
seiva queimada, acordo no dia seguinte debilitada, mas vejo água. A dúvida foi
perdendo a cor e foi aos poucos sendo tomada pela certeza... O meu caminho
começou a se formar. Tudo se adequou como uma dança, vi o mar e me senti
dedilhada por um piano de gotas. Fui envolvida pelo chiado de terra molhada e
revigorei-me, enquanto pude. Mas como embebedar-se é desolador, com as mãos
molhadas tive medo e agora tranquilamente espero, até que o meu verde tome o
seu verdadeiro tom.